16 de ago. de 2007

COLUNA DO EDIO ELÓI FRIZZO - 15.08.07


Transcrevo aqui as manifestações de Renato de Jesus Padilha, transplantado e que se recente, gravemente, da falta de medicamentos.
TRANSPLANTADOS E A FALTA DE MEDICAMENTOSSR. RENATO DE JESUS PADILHA: Eu quero cumprimentar o presidente da Câmara, todos os vereadores que nos acolhem aqui nesta Casa, os meus colegas transplantados. Quero dizer uma coisa para vocês, nós estamos num Estado, que é modelo na América Latina em transplante. Nós estamos num Estado e na cidade que é modelo no Brasil inteiro e na América Latina, em captação de órgãos. Nós estamos no Estado em que o gaúcho altaneiro, que sai com o seu coração batendo forte e de peito aberto, dizendo com orgulho: sou gaúcho!! E o Rio Grande do Sul tem muita coisa boa. Eu venho por muito tempo me segurando, porque eu, como membro da Academia Caxiense de Letras, como representante dos pacientes renais do Brasil, que é onde eu e a Dona Isoldi Chies, e muitos colegas meus estamos empunhando essa bandeira. Eu quero dizer aos senhores, que como professor, como formador de opinião chegou momento onde ontem eu disse: chega. Vou pegar um surdo e vou sair batendo, porque a batida do surdo tem uma representação muito importante, é o coração do homem, é o coração da sociedade que bate no tique-taque. É o coração de vida. Eu, quando fiz o transplante saquei um órgão da minha irmã, da Regina Padilha Kessler, que me deu parte do seu corpo, para que eu sobrevivesse. Isso é muito sério minha gente. Eu me sinto como ser humano na responsabilidade de pegar o surdo. E eu dizia ontem: eu vou sozinho para a praça. Se não me acompanharem eu vou sozinho bater o surdo. Gente, o que está acontecendo é muito sério. Eu assinei um contrato de responsabilidade com a Santa Casa, quando eu fiz o meu transplante, de a cada dois meses ir lá. Uma equipe médica se empenhou pela minha vida, uma equipe de enfermeiros se empenhou pela minha vida, a minha família, o meu filho, a minha filha, a minha esposa se empenharam pela minha vida. A minha cunhada foi limpar a casa para cuidar de mim, e tanta gente ficou orando, ficou pedindo para que eu estivesse vivo. Eu quero dizer aos senhores que aqui falaram, mas não sabem o que é sentir na pele um ano e meio de hemodiálise, sentir as agulhas, sentir o cateter, sentir um choque de máquina e quase morrer. Eu tenho colegas que estão cinco, dez, quinze, dezesseis, vinte anos na máquina esperando um órgão, gente!! Esperando um órgão que não vem e morre sem receber. E nós que recebemos, ficamos aí no risco de voltar para a máquina de novo. Mas o que é isso, gente? Nós, e me incluo nisso, estamos impotentes diante de tal situação. Quero lembrar aqui palavras do José Ferreira Machado, um dos mestres da comunicação, nobre advogado, que dizia: "O diabo tem força. Se uma pessoa matar alguém ali na rua, chove, é coisa de primeira página. Se pegarem um traficante, é matéria de capa" Agora, nós aqui da capital da cultura, rogando pela vida vamos ter que morrer calados? O que é isso, gente? Que gaúcho é esse que somos nós? Estamos esperando o quê? Que fique na memória de cada um de nós, e que cada um de nós saia daqui com o compromisso de resgatar aquele gaúcho altaneiro, que não tem que andar mais se encolhendo. E aqui temos lideranças. E cabe a cada um de nós, gente, sair daqui, homem, mulher, com mais humildade, mas com coragem de enfrentar uma coisa, chamada problema de saúde. Gente, que seja o momento antes de hoje, e depois de hoje, que fique aqui cravado um esteio de resgate, de vontade de mudar o que está aí, que não dá mais. Chega!! (Pronunciamento efetuado durante sessão da Câmara de Caxias do Sul no dia 09 de agosto de 2007).

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